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QUASE POESIA (p. 06)

# 037   Quando a chuva, matreira, Se derrama nas folhas altivas, Da imponente castanheira, De forma intensa e amiga, No âmago da alma envelhecida, Abre-se uma amistosa clareira, De luz cristalina, curativa, E, de uma singular maneira, Lava as antigas feridas Que foram adquiridas De forma dura e fria, Ou de forma despercebida, Com o passar das noites e dias, Entre lágrimas e alegrias.   # 038   Fugir da verdade É viver a vida Pela metade.   # 039   O estudo pode até Na vida, não ser tudo, Mas viver a vida Desdenhando O dito-cujo, É o trem pra lá De estúpido.   # 040   A grande mídia É uma farsa Uma piada infame E sem graça.   # 041   A poesia não é E nunca será Uma coisa útil Ou algo que o valha E, por isso mesmo, Por sua inutilidade Sem igual Ela sempre foi E para sempre será Algo fundamental.   # 042   De um modo geral Os titulares do poder Com sua cara de pau E sem a menor moral Que amam ficar Três por quatro Praticando o mal Com todos e com tudo Não são, na real, Os sujeitos Que gov

A ROCHA DO SEPULCRO ROLOU

É correto pagarmos tributos a César? Todos conhecemos essa perguntinha, pra lá de maliciosa, que se faz presente no Evangelho de São Matheus, como também conhecemos muito bem a resposta que foi dada por Cristo e, a resposta, curta e grossa, feito joelho destroncado, nos convida para dissiparmos as várias camadas de sombras que envolvem e, em certa medida, asfixiam o nosso coração.   O Filho de Davi disse, mostrando a todos a face do bicho velho togado na moeda, que devemos dar a César o que é dele, e a Deus o que lhe pertence. Mas, o que pertence a Deus que tem o rosto Dele impresso? Nós, amigo leitor. Lembremos, e nunca nos esqueçamos, que o Altíssimo nos fez a sua imagem e semelhança.   Infelizmente, não são poucas as vezes que acabamos nos esquecendo disso e, sem nos darmos conta, entregamo-nos de corpo e alma aos poderes pútridos deste mundo, oferecendo o que há de mais elevado em nós para ser distorcido, mutilado e agrilhoado pelas ideias, valores, ideologias, projetos e planos de

O RONRONAR MANHOSO DO GATO MALHADO

Umberto Eco, em sua obra “Cinco escritos morais”, nos chama a atenção para uma questão que, ainda nos dias atuais, se faz presente sobre a mesa da opinião pública e dos botecos, que é a tal da tolerância e, de cara, o finado escritor italiano, sem dó, coloca o dedo na ferida, quando diz que para sermos realmente tolerantes, deveríamos compreender que existem muitíssimas coisas que são intoleráveis, inclusive e principalmente, em nós mesmos, que nos consideramos, assim, a “cada escarrada do bem”.   Sim, eu sei, abunda no mundo atual o número de pessoas que quer parecer fofa, fofíssima, a todos os olhares midiáticos, e que fazem questão de dizer que estão de braços abertos, feito um personagem do desenho animado “ursinhos carinhos”, para abraçar a todos, sem discriminação, no dia intergaláctico do abraço e da amizade.   Mas, aí vem a pergunta que não quer calar: é possível abraçarmos, com a mesma reverência e consideração, um integrante da Toca de Assis e um entusiasta fervoroso de Josep

REFLEXÕES E APONTAMENTOS INOPORTUNOS (p. 03)

É muito, muito importante conhecermos razoavelmente bem a obra de um filósofo, de um escritor, ou de qualquer espécime dessa seleta fauna; mas, conhecer a vida de algumas dessas figuras, com alguma profundidade, é algo imprescindível para compreendermos o quanto de suor, sangue e lágrimas é necessário derramar para se produzir uma obra que não é feita com argamassa, que não aumenta os dígitos de uma conta bancária e que, por isso mesmo, é de um valor inestimável.   #   #   #   Quem muito se ufana de ser detentor de uma “mentalidade pragmática”, no fundo e na real, não passa de um medíocre envergonhado e, por isso mesmo, incapaz de qualquer idealismo, por mirrado que seja.   #   #   #   O talento pode até, em certos ambientes, ser inspirador, mas a mediocridade, infelizmente, em nossa sociedade, é tremendamente contagiosa e ofusca o brilho de qualquer alma minimamente talentosa.   #   #   #   Aprender a lidar com as nossas contradições é o primeiro passo que deve

QUATORZE DE MARÇO

 Num certo dia, num lugar Próximo a uma lagoa antiga De plácidas águas de alegria Ciosas para refletir o luar Que viria após o crepúsculo Da tarde que se ia devagar Para alegremente saudar Uma gentil alma de luz solar Que viria a este mundo habitar. Me lembro bem, como me lembro, Foi a muito, num mês de março, Que essa menininha morena De cabelinhos bem cacheados Nasceu para tornar tudo encantado. Todos os dias, cada um deles, Não apenas e tão somente este O décimo quarto, do mês de março, Em que comemoramos o aniversário, Da minha amada filhinha, A linda e doce menininha De cabelos cacheados.

AMARELADAS CARTAS DO AZERBAIJÃO

O amigo leitor, imagino eu, já deve ter lido o livro “Cartas Chilenas”. Se não o fez, ao menos deve ter ouvido falar do referido livro, onde o autor, Tomás Antônio Gonzaga, de forma satírica, tecia incontáveis críticas à situação que imperava na amada Minas Gerais do século XVIII.   As treze cartas, que compõem a obra, eram assinadas com o pseudônimo de Critilo e eram endereçadas ao seu amigo Doroteu, pseudônimo de Cláudio Manuel da Costa.   Critilo, supostamente, residia no Chile, na cidade de Santiago, e não economiza na ironia para sentar a ripa num tal de Fanfarrão Minésio, que seria o suposto Governador da Capitania Geral do Chile.   Porém, todavia e entretanto, as críticas não eram ao suposto governador do Chile, mas sim, à corrupção do governador da Capitania de Minas Gerais, o senhor Luís da Cunha Meneses.   Para contornar o despotismo e a censura que imperavam naqueles idos, e não terminar vendo o sol nascer quadrado e, em seguida, ver-se pendurado na forca, o grande poeta rec

QUANDO AS FLORES DO JAZIGO MURCHAREM

Todos os países que adotam o tal do regime democrático, sem exceção, apresentam uma e outra imperfeição e, por essa razão, nos países onde de fato há democracia, a crítica a mesma se faz necessária para que possa-se identificar as suas possíveis deficiências e, mediante debates honestos, podermos procurar caminhos para corrigi-las, pois, é importante nunca esquecermos que a democracia é um ideal áureo, mas nós, seres humaninhos, somos uma triste figura.   Por isso, a crítica justa, e até mesmo a injusta, acabam sendo sempre ferramentas imprescindíveis, não apenas para aperfeiçoarmos os mecanismos políticos e sociais da sociedade, mas também, para que possamos nos aprimorar como cidadãos.   Aliás, um cidadão que acredita estar acima de toda e qualquer crítica, provavelmente, quando meteu o dedo na jarra da vaidade, deve ter se lambuzado dos pés à cabeça, não é mesmo? Claro que é. Da mesma forma que uma figura, que acredita que seus atos estão acima e além de qualquer correção, possivelm