Pular para o conteúdo principal

Postagens

O AMOR REDUZIDO A UMA AÇÃO BUROCRÁTICA

    É muito fácil falarmos em misericórdia, muito fácil mesmo, agora, manifestarmos ela em nossos atos cotidianos, e reconhecermos a sua presença nas ações dos outros, são outros quinhentos.   Quando nos vemos diante dos desvalidos da terra, que vivem costeando o latifúndio da existência, muitas vezes dizemos para nós mesmos, como uma forma de justificativa para a dureza do nosso coração, que os infelizes desse mundão, sem eira nem beira, estão a sofrer justamente porque o Estado não cumpre devidamente a sua “função social”, porque as autoridades não desenvolvem políticas públicas com vistas a resolver as inúmeras questões de “justiça social” pendentes em nossa sociedade, ou porque milionários e bilionários pouco ou nada fazem por eles.   Que muitas autoridades e poderosos se fazem de Pilatos diante do sofrimento de inúmeras pessoas, esse é um ponto que não se discute. O que não reconhecemos é que nós também portamo-nos feito Pilatos, quando delegamos ao Estado a realização de atos q

A SOMBRA DO REI BARBUDO

“Não é a religião, mas sim a revolução o ópio do povo”.  (Simone Weil) [publicado em 22 de abril de 2018] CERTA FEITA, O ESCRITOR José J. Veiga, autor do livro “A hora dos ruminantes”, havia dito, numa entrevista, que o escritor não deve escrever os livros que quer, mas sim, aqueles que precisam ser escritos. Uma sentença simples que, penso eu, nos leva a considerações bem interessantes. Não apenas sobre o ofício de escrevinhar, mas também sobre todas as atividades humanas. Essas palavras nos convidam a volver nossas vistas, e mover nossas energias, para aquilo que, de fato, precisa ser realizado; não apenas e unicamente para as coisas que desejamos que sejam feitas. Por isso, deixo de lado aquilo que gostaria de assuntar, para voltar minha lapiseira na direção de outros traços que me parecem mais urgentes. Em dezembro de 2015, o senador petista Paulo Paim - por quem tenho um grande respeito apesar das inumeráveis discordâncias que possuo com relação às suas posições políticas – havia

DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 01)

Quando tudo passa a ser permitido, nosso coração torna-se miseravelmente permissivo.   #    #    #   Nós temos o dever de nos esforçar para explicar aquilo que sabemos da forma mais clara possível, mas não temos a obrigação de mover mundos e fundos para convencer aqueles que não querem entender patavina alguma.   #    #    #   Nós, brasileiros, somos um tipo humano muito gozado. Somos capazes de dizer as coisas mais horríveis a respeito de fatos e pessoas que desconhecemos totalmente e, fazemos isso, com aquela indignação digna de um profeta do Antigo Testamento, como se o mar Vermelho fosse se dividir ao meio após nós termos aberto nossa boca [nada] santa. Um trem lindo, lindo nada, triste da gente ver. Agora, se alguém tem a petulância de corrigir, mesmo que gentilmente, esse nosso jeito torto, meio morno, de condenar tudo e todos, do alto de nosso hipócrita Olimpo umbilical, ficamos pau da vida, cuspindo marimbondos para todos os cantos, pois, como dissimulados que

UM FATO, UM BEIJO E UM ADEUS

Nas banalidades do cotidiano, nos pequenos encontros e desencontros da vida, se prestarmos a devida atenção e estivermos dispostos a costurar cada um desses retalhos com a linha da boa vontade e com a agulha sagacidade, nós iremos conseguir vislumbrar a beleza da vida e a singularidade do seu sentido.   Para ilustrar essa afirmação, derramada de nosso tinteiro, nos permitam apresentar um exemplo. Um exemplo aparentemente banal, como tudo o mais que se apresenta em nossa vida, mas que transborda de sentido e profundidade quando são devidamente reunidos em nossa consciência.   Como todos nós sabemos, e sabemos muito bem, Carmen Miranda, no auge de sua carreira como cantora, arrasava corações. Na verdade, no correr de toda sua vida ela fez isso com sua presença espirituosa, com sua personalidade encantadora e, é claro, com sua voz maravilhosa que, com a qual, encantava as plateias que ia vê-la cantar.   Ruy Castro, que escreveu uma excelente biografia sobre ela, conta-nos qu

AS COLUNAS DA ARQUITETURA DO PODER

Recentemente, o jurista e cronista Francisco Carlos Caldas, em sua coluna para o jornal FATOS DO IGUAÇU, publicou um artigo para chamar a atenção de seus leitores para a importância das eleições municipais de 2024. Isso mesmo. Ele está chamando a nossa atenção para as eleições municipais de 2024 em um ano em que teremos eleição para Presidente e Governadores.    Municipalista que é, Francisco Caldas está coberto de razão ao apontar para essa direção, pois, a única realidade política que, de fato, existe, é a comunidade. Tudo o mais não passa de ficção. De uma ficção que, é claro, nos assombra e nos espolia com seus reios tributários e com suas esporas burocráticas, desde a aurora republicana dessa terra de Pindorama.   A respeito disso, penso que seja interessante lembrar que, em seu livro “Da propaganda à presidência”, Campos Sales, o quarto homem a presidir essa birosca chamada Brasil, escreve de forma clara e direta, para todos aqueles que deitaram suas vistas nas páginas da referid

MÁ VONTADE E FÉ TÍBIA

  Lembro-me que lá pelo final do século passado, tive meu primeiro contato com alguns escritos de Hugo de São Vitor. Dentre esses escritos estavam alguns de seus sermões que, diga-se de passagem, são primorosos e, por isso mesmo, recomendo vivamente a leitura dessa preciosidade que é o livro “Sermones Centum”.   Destes sermões, há alguns onde ele faz algumas considerações sobre a simbologia presente na estrutura de uma catedral. Considerações essas que, como direi, tiraram incontáveis escamas de minhas vistas e me ajudaram pra caramba. Me ajudaram a perceber inúmeras questões que, até então, eu era incapaz de cogitar e que, agora, passaram, graças as suas palavras, a fazer parte das minhas reflexões e referências.   Naturalmente, não tenho como apontar nestas linhas, tintim por tintim, todas as dimensões simbólicas que eram indicadas por Hugo de São Vitor. Aliás, não ousaria ter tal presunçosa pretensão. Por isso, procurarei me ater a tão somente um elemento que, pessoalmente, consid

O SANTO ROSÁRIO

  Os dedos caminham, Silenciosos, De conta em conta Sem contar A infinita graça Que aplaca o humano olhar Do orante silencioso Que... De conta em conta Coloca-se a contemplar Os mistérios recitados Na simplicidade Das contas Do Santo Rosário. Dartagnan da Silva Zanela, em 08 de janeiro de 2009.