É muito fácil falarmos em misericórdia, muito fácil mesmo, agora, manifestarmos ela em nossos atos cotidianos, e reconhecermos a sua presença nas ações dos outros, são outros quinhentos. Quando nos vemos diante dos desvalidos da terra, que vivem costeando o latifúndio da existência, muitas vezes dizemos para nós mesmos, como uma forma de justificativa para a dureza do nosso coração, que os infelizes desse mundão, sem eira nem beira, estão a sofrer justamente porque o Estado não cumpre devidamente a sua “função social”, porque as autoridades não desenvolvem políticas públicas com vistas a resolver as inúmeras questões de “justiça social” pendentes em nossa sociedade, ou porque milionários e bilionários pouco ou nada fazem por eles. Que muitas autoridades e poderosos se fazem de Pilatos diante do sofrimento de inúmeras pessoas, esse é um ponto que não se discute. O que não reconhecemos é que nós também portamo-nos feito Pilatos, quando delegamos ao Estado a realização de atos q