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CORAÇÕES E MENTES MUTILADOS # 011

  A excessiva ênfase que se dá, na sociedade contemporânea, a importância dessa tal de “autoestima”, não ajuda em nada os indivíduos que se sentem sempre pra baixo. Na verdade, bem na verdade, acaba, em muitos casos, fazendo muito mais mal do que promovendo algum bem que seja.   De um modo geral, quando nos sentimos pra baixo, com nossa estima soterrada sobre um montão de tristezas, mágoas e ressentimentos, isso se deve, em muitíssimos casos, a um problema com dois vetores.   O primeiro é que, muitas vezes, sentimo-nos como se fôssemos o subnitrato da existência vegetativa, porque nos comparamos àqueles que são melhores do que nós em alguma coisa que nunca nos esforçamos  para sermos bons . E, ao sermos defrontados com tal figura, inevitavelmente nos comparamos a ela e percebemos que não somos bons como ele naquilo que ele faz. Não apenas isso. Descobrimos que não procuramos ser bons em patavina alguma. Aí o trem degringola de vez ladeira abaixo.   Tal informação, quando é atirada em n

ELIAS DALLABRIDA– IN MEMORIAM

  Publicado, originalmente, no jornal FATOS DO IGUAÇU no  começo de 2021. Lá por meados dos anos noventa iniciei minha graduação em História. Era a segunda que eu iria iniciar e, se tudo corresse bem, a segunda que eu iria abandonar. Naqueles idos, que não voltam mais, minha vontade era abandonar o mais rápido possível tudo aquilo e colocar o meu pé na estrada novamente e seguir vagando, sem destino, dum canto para outro do país. Porém, para infelicidade geral da nação, não foi isso que aconteceu. Logo no primeiro dia de aula, lá estava eu, com uma cabeleira ao estilo “Alexandre de Moraes”. Fui ao mural do saguão de entrada, identifiquei qual seria a sala da minha turma e, como bom calouro, me bambeei até ela. Olhei bem para turma, cumprimentei a todos e me dirigi para a última carteira da primeira fila junto à porta. Isso mesmo. Eu era um caipora do fundão, doidinho para abandonar tudo e seguir com minha vida sem rumo e sem destino, bem longe dos bancos escolares. Então, na primeir

CORAÇÕES E MENTES MUTILADOS # 010

  O escritor francês André Malraux nos ensina que essa tal de cultura, que vive presente nas conversas de botequim e nas tretas virtuais, seria tão só e simplesmente aquilo que fica depois que esquecemos tudo o que foi aprendido por nós.   Desde tenra idade até o momento que nossos cabelos ficam prateados, como se tivessem sido sutilmente tocados pelo luar, acabamos aprendendo algumas coisinhas. Alguns mais, outros menos, mas todos nós acabamos colocando muitas coisas na algibeira da nossa alma que, diga-se de passagem, é furada.   Muita coisa aprendemos, muitas outras tantas esquecemos, porque tudo aquilo que apenas é apreendido sem ser amado, acaba não encontrando morada em nosso coração e termina apenas passando pela nossa vida sem deixar grandes marcas.   Agora, há algumas coisas que recebem de nós uma atenção maior e, por isso, passamos a cultivá-las em nossa vida e, ao cultivá-las, elas acabam gerando frutos que alimentam a nossa alma, nutrem a nossa vida e dão um sabor singular

CORAÇÕES E MENTES MUTILADOS # 009

  Há uma velha historieta que nos conta que um senhor havia despertado depois de muito tempo de um sono profundo – ao estilo Bela Adormecida, mas sem beijo, nem príncipe – e que, ao ver o mundo contemporâneo, sentiu-se aturdido e, então, procurava algum canto onde ele poderia se sentir em casa. Foi até o Parlamento e esse havia mudado. Foi à praça da cidade e essa, também, havia mudado. Resolveu ir então até a Igreja mais próxima, mas essa também não era mais a mesma. O senhor foi para todos os cantos, todos, e tudo havia mudado. Então, num ato de desespero, ele resolveu ir até a escola e, ao chegar lá, seu coração ficou tranquilo, porque a escola continuava sendo do mesmo jeito que era no seu tempo, que a muito havia passado.   Uma historieta bonitinha, engraçadinha, sim, mas tremendamente ordinária por várias razões e, sua banalidade falaciosa, que é capaz de engambelar muitas almas imbuídas de boa vontade, nos revela alguns pontos cegos que descuram a educação contemporânea e faze

DONA FRANCISCA – EM MEMÓRIA

  O poeta Stéphane Mallarmé nos ensina que a eternidade nos transforma enfim naquilo que nós éramos, naquilo que, durante a vida toda, trabalhamos para nos tornar.   Podemos falar isso a respeito dos grandes vultos que povoam a história, como também podemos afirmar o mesmo a respeito de cada um nós que aqui se faz presente. Mas não é a respeito dos primeiros, nem dos segundos, que dirigimos essas precisas e preciosas palavras de Mallarmé, mas sim, sobre ela, Dona Francisca da Silva Caldas, chamada de forma afetuosa pelos parentes e amigos simplesmente de “Tia Chica”. É. Ela não gostava desse apelido e, por não gostar, acabou ficando, como todo e qualquer apelido.   Dona Francisca era nativa desse rincão, filha de Ismael Blém, o “TiusMaia”, e de Doraci Ribeiro, a “Tia Dora”.   Sua meninice e mocidade foram vividas na comunidade de Santo Antão que, antigamente, quando Reserva do Iguaçu ainda era “Rondinha”, chamava-se Invernadinha.   Ela nos contava que adorava um bom b

CORAÇÕES E MENTES MUTILADOS # 008

  Sem uma boa dose de paciência, e uma boa porção de persistência, não realizamos nada que preste nessa vida. Nadica de nada. Essa é uma das muitas lições preciosas que vemos presentes nos episódios da série animada “Naruto”.   Dedicação, esforço, resiliência, enfim, as lições virtuosas que se apresentam em cada um dos episódios, e na vida de cada uma das personagens, são preciosidades que, por inúmeras razões inconfessáveis, são desdenhadas soberbamente por nós.   Falando-se em Naruto, lembrei, não sei por qual razão, de um escritor que gosto pra caramba: o portuga Lobo Antunes. Essa fera das letras afirma, de forma lacônica, que escrever não é difícil. Na verdade, segundo ele, seria tremendamente fácil fazer um lápis bailar sobre uma página em branco. O que realmente seria um tormento, algo que sugaria todas as nossas energias, e exige uma baita dose de perseverança e de resignação, é o trabalho de revisão. Esse sim, segundo ele, é de matar.   E não adianta reinar feito um Ford velho

CORAÇÕES E MENTES MUTILADOS # 007

  Há certas verdades que estão diante de nossas ventas e, mesmo assim, sabe-se lá por que cargas d’água, nos recusamos a enxergá-las.   Algumas delas são de interesse meramente pessoal e, por isso mesmo, cada um sabe onde o seu sapato aperta ou, ao menos, deveríamos saber e, por teimosia, preferimos fingir que não há nenhum calo existencial nos incomodando no garrão de Aquiles da nossa vida.   Agora, existem algumas verdades que dizem respeito a todos nós. Verdades essas que se forem ignoradas não apenas tornarão a nossa vida uma grande meleca, mas melecará a vida de muitos.   Uma delas é a seguinte, tome nota: é impossível ensinar algo para alguém que não quer nos ouvir. Podemos pintar o sete, nos virar nos trinta, recitar mil e um encantamentos, utilizar toda ordem de traquitanas tecnológicas, não importa, se o indivíduo não quiser nos ouvir ele simplesmente fará aquela cara de paisagem para disfarçar a sua total indiferença, ou então, como ocorre em muitos casos, agirá de forma ma