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UMA HISTÓRIA QUE SEMPRE SE REPETE

  Rubem Braga, em seu livro “A traição das elegantes”, nos conta uma memória sua, dos seus tempos de guri. Conta-nos que, num certo dia, quando estava indo para a escola, encontrou seus coleguinhas fazendo o caminho inverso. Vendo isso, perguntou-lhes o que aconteceu e estes, efusivamente, cantarolando, diziam: “Rui Barbosa morreu! Rui Barbosa morreu! Rui Barbosa morreu”!   Rubão diz-nos que, em sua meninice, não sabia quem era esse tal de Rui Barbosa, mas lembrava claramente das falas dos adultos sobre ele. Uns diziam que era o homem mais inteligente do Brasil, grande patriota e que tinha assombrado o mundo com as luzes de sua mente. Porém, muitíssimos diziam que ele era um vendido [que ele tinha se colocado contra a vacinação obrigatória], que não valia nada e assim por diante.  Bem, todos nós hoje sabemos quem é Rui Barbosa e temos uma clara noção da sua grandeza.   Se deixarmos as memórias de Rubem Braga de lado e voltarmos um cadinho no tempo - na verdade um tantão - e irm

A NORMA QUE NOS DEFORMA – parte IV

   Sábado de sol, aluguei um caminhão, para levar a galera pra comer feijão. Mentira. Não fiz nada disso. Apenas, não sei por que cargas d’água, lembrei-me desse trecho de uma das músicas dos “Mamonas Assassinas”.   Na verdade, neste fim de semana, minha senhora, junto com minha filhota, foram ao salão de boniteza e, lá estando, puxaram conversa com uma mulher que lá estava, fazendo suas unhas, muito simpática e boa de prosa que, por ventura, ou desventura, era professora de matemática.   Conversa vai, conversa vem, e eis que a professora afirma que estava cansada, frustrada com a profissão. Disse ela, com os olhos marejados, que ao final do ano (que passou e já foi tarde), um abençoado que ficou o ano todo sem frequentar as aulas, sem dar um sinal de vida, de repente, nalgum dia de dezembro, pouco antes do fechar das cortinas das encenações letivas, deu o ar da graça. E ela teve de aprová-lo, com base nos critérios epistemológicos da “educação segundo a malandragem”. Ou seja

OLAVO DE CARVALHO - MUITO OBRIGADO

    Tudo que aqui realizamos, nessa breve passagem pela terra, bem ou mal, ecoa pela eternidade e, na maioria dos casos, ressoa de forma quase que inaudível pelas páginas empoeiradas da história. Esse ressoar inaudível será, provavelmente, o que ocorrerá quando eu e você, caríssimo leitor, tivermos terminado nossa jornada por aqui, porém, há aqueles que, devido a têmpera singular de sua alma, acabam deixando nas páginas amareladas da mestra da vida, um brado que ecoa pelos nervos e tendões dos séculos. Esse é o caso do professor Olavo de Carvalho que veio a falecer na noite de 24 de janeiro de 2022, dia de São Francisco de Sales, padroeiro dos professores, escritores e jornalistas.   Poderia aqui falar inúmeras coisas, coisinhas e coisonas a respeito do professor, da importância de sua vasta obra e de tudo que ele incansavelmente procurou ensinar através de seus livros, artigos, aulas e cursos, mas não o farei, tendo em vista que isso não é necessário porque, a sua obra continuará send

O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA

   Todos temos um caminho particular Para pé por pé, devagarinho, trilhar Rumo a velha cidade de Damasco E, bem no meio da nossa viagem,   Cair do cavalo e ficar em cacos E vermos ao longe, não uma miragem, Mas a presença viva da Verdade Que por nós se fez sangue e carne.   Presença que pergunta calmamente Para a nossa vil carcaça caída, Estropiada, arrogante e displicente Porque ainda vivemos de forma fingida,   Perseguindo-O, sem trégua, noite e dia, Ao invés de acolhê-Lo em nossa vida Para que Ele liberte-nos realmente Dos grilhões que nos prendem   Que ferem nosso coração pesado Que torturam nossa desordenada mente Fazendo-nos carregar o terrível fardo De nossos incontáveis pecados   Que praticamos diariamente Ignorando que Aquele que se apresenta No meio do caminho, de forma estupenda Foi torturado e morto injustamente   Para nos resgatar da nossa vil condição, Para nos Salvar da nossa degradação Fruto das nossas es

A NORMA QUE NOS DEFORMA – parte III

    Uma das ideias que mais deformam o caráter de um caboclo e, de quebra, mutila a claudicante vontade de qualquer um, é a sanha de querer ser “original” a qualquer preço ou, ao menos, parecer sê-lo. Há muitos perrengues que vão se amontoando um sobre o outro quando coloca-se o desejo de ser original como sendo algo digno de nossa atenção e preocupação. O primeiro desses perrengues é que, quanto mais os indivíduos idolatram a tal da originalidade, mais parecidos eles ficam com tudo o que há de mais medíocre nesse mundo. É batata! Basta averiguar para constatar. E isso ocorre, frequentemente, quando uma pessoa quer porque quer ser “diferentona”, porque ela não quer saber de empreender os esforços mínimos necessários para fazer aquilo que é bom, belo e verdadeiro; ela apenas deseja, caprichosamente, destacar-se no meio da multidão. Ou seja, por detrás de todo aquele papo de inovação oculta-se, junto com a nossa soberba nada original, uma tremenda má vontade misturada com uma baita ego

REFLEXÕES LARGADAS PELADAS AO VENTO # 002

   A disciplina, ao contrário do que muitos afirmam, não é um trem fuçado imposto por um misantropo autoritário que sente um prazer sádico em ver os outros, especialmente jovens e infantes, tendo de realizar tarefas e atividades que lhes causam desconforto e enfado. Nada disso. Disciplina é um poder que se conquista, a duras penas e sem lesco-lesco, que faz toda a diferença na edificação de uma sólida personalidade. Ela é, sem sombra de dúvida, uma ferramenta indispensável para que possamos realmente ser livres e, principalmente, uma arma insubstituível para nos defender de todos aqueles que insistentemente querem usurpar nossa liberdade e mutilar nossa alma.   *   Não existe liberdade sem autocontrole. Um sujeito que se considera uma pessoa plenamente livre só porque age de forma displicente e desregrada é similar a um indivíduo que se diz abstêmio, que jura de pés juntos que não toma nem mesmo uma gota de cana, mas que não larga o seu cachorro engarrafado por nada desse mun

A NORMA QUE NOS DEFORMA – PARTE II

   Quando eu ainda era um reles garralho e, faceiro da vida, pegava meu boletim escolar, ou a devolutiva de uma e outra prova, mais do que depressa ia correndo mostrar para meus pais o meu grande feito. Estes, tranquilamente, olhavam bem dentro dos meus olhos, sorriam, me parabenizavam e, logo em seguida, diziam que as notas estavam muito boas, porém, lembravam-me sempre que não bastava ser bom. Era preciso que eu me esforçasse para ser melhor. No início, naturalmente, em minha cabeça de moleque traquino, tais palavras não eram, como direi, bem recebidas, porque, como todo infante, o que eu queria mesmo era ser elogiado, bajulado por ter simplesmente realizado aquilo que se espera de um aluno e, diga-se de passagem, que é o dever de qualquer filho: honrar pai e mãe. Mas vejam só a sutileza das palavras: não basta ser bom. É preciso que sejamos melhores. Quando dizemos que algo é bom, de um modo geral, estamos apenas afirmando que esse algo é satisfatório. Só isso. Pouco importa a ent