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REFLEXÕES LARGADAS PELADAS AO VENTO # 002

  

A disciplina, ao contrário do que muitos afirmam, não é um trem fuçado imposto por um misantropo autoritário que sente um prazer sádico em ver os outros, especialmente jovens e infantes, tendo de realizar tarefas e atividades que lhes causam desconforto e enfado. Nada disso. Disciplina é um poder que se conquista, a duras penas e sem lesco-lesco, que faz toda a diferença na edificação de uma sólida personalidade. Ela é, sem sombra de dúvida, uma ferramenta indispensável para que possamos realmente ser livres e, principalmente, uma arma insubstituível para nos defender de todos aqueles que insistentemente querem usurpar nossa liberdade e mutilar nossa alma.

 

*

 

Não existe liberdade sem autocontrole. Um sujeito que se considera uma pessoa plenamente livre só porque age de forma displicente e desregrada é similar a um indivíduo que se diz abstêmio, que jura de pés juntos que não toma nem mesmo uma gota de cana, mas que não larga o seu cachorro engarrafado por nada desse mundo. Por isso, repito o dito de outro modo: sem autodomínio somos apenas escravos. Escravos dos nossos caprichos, dos nossos vícios e, principalmente, daqueles que sabem manipular essas nossas fraquezas para nos subjugar.

 

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A indisciplina e a displicência, vendidas como sinônimo de autodeterminação e de fodereza, é algo que corrompe e degrada profundamente o caráter de uma pessoa, reduzindo-a a um mero joguete dos seus caprichos descontrolados. Tal perversão é algo tão danoso, tão perigoso quanto a cocaína e o crack. Só não vê isso quem está subjugado por essa pérfida ilusão.

 

*

 

Muito, mas muito mais importante que instigar os jovens e infantes a terem, prematuramente, uma opinião [de]formada sobre tudo, para poderem se sentir membros da panelinha daqueles que se consideram pessoas “criticamente descoladas”, é impeli-los a aprenderem a se autogovernar, a serem dignos, prestativos e a agirem com um mínimo de bom-senso para, desse modo, poderem aprender de tudo um pouco com zelo e disciplina e, com o tempo, possam compreender alguma coisa com um mínimo razoabilidade porque, admita-se ou não, opinião sobre tudo, a respeito de toda e qualquer coisa, qualquer idiota é capaz de ter, mas poucos estão realmente dispostos a esforçar-se abnegadamente para conhecer algo com alguma propriedade. Poucos mesmo.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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