A tirania não se cansa de lançar sua gélida sombra sobre os corações humanos; a vilania não desiste de atormentar aqueles que apenas querem viver uma vida comum, de um homem comum.
E não há nada mais belo, nem mais singelo, do que uma vida comum, como nos ensina G. K. Chesterton e, talvez, seja por essa razão, que os sectários de todas as ideologias totalitárias repudiam a simplicidade da vida.
Sobre isso, Miguel de Unamuno nos lembra o fato de que todas as tiranias são pérfidas, mas a mais abjeta de todas é, sem dúvida alguma, a tirania das ideias.
Na verdade, todos os despotismo tomam como base uma ideia equivocada a respeito de algum aspecto da realidade, que acaba sendo tomada como “a explicação cabal” de tudo e de todos.
Nesse sentido, todo sectário de uma ideologia coletivista, de verve totalitária, acaba tendo a sua consciência escravizada por um amálgama de ideias toscas e ideais tortos. Vale lembrar que a consciência dos sectários que lutam por ideais justos correm o mesmíssimo perigo.
Ao afirmar isso, não estamos dizendo que seja inapropriado defendermos um conjunto de crenças que consideramos benfazejas. O que afirmamos, sem titubear, que uma coisa é tomarmos a defesa de uma ideia ou de um ideal; outra, bem diferente, é sermos possuídos por uma ideologia, por um ideal ou por uma ideia vaga a respeito de qualquer coisa.
Sim, há uma diferença entre essas duas atitudes e, essa diferença, não é nem um pouco sutil.
Dito de outro modo, rico é o homem que possui um bom montante de dinheiro, não aquele que se vê possuído pelo desejo de tê-lo. Do mesmo modo, uma coisa é um indivíduo que procura cultivar a procura abnegada pela verdade através do conhecimento das mais variadas ideias e ideais, porque ao procurar compreendê-las, acaba exercitando a sua inteligência, que age sobre elas e através delas; diferente do “ideocrata”, que termina tendo o seu horizonte de consciência estreitado, permitindo que a sua inteligência seja lentamente mutilada pela ação tirânica de uma ideia [de]formada sobre tudo.
Por essa razão, Rubem Braga dizia que o seu grande sonho era ser simplesmente um homem comum. Ele sabia muito bem o que a “ideocracia” podia e pode fazer com os pobres corações humanos, principalmente com os bem-intencionados.
Enfim, estou com o Braga e não abro.
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Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.
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