Pular para o conteúdo principal

QUANDO A TROPEADA ELEITORAL ACABAR

Na grande maioria das cidades, deste Brasil brasileiro, o pleito eleitoral findou; noutras tantas, não muitas, teremos uma segunda rodada da roleta da democracia brazuca. Enfim, seja como for, a essa altura do campeonato, podemos dizer que, de certo modo, ele, o ano eleitoral, já está de partida.

 

E com o fim do som estridente da sinfonia das máquinas de pirlimpimpim, vemos, faceiros da vida, os vencedores, comemorando a conquista e agradecendo aos cidadãos a confiança que lhes foi depositada. Se eles foram uma escolha acertada, saberemos disso daqui a quatro anos, porém, uma coisa é certa: os eleitos foram, sem dúvida alguma, os mais tarimbados no carteado do jogo das cadeiras do poder.

 

Agora, aqueles que não foram laureados, por certo e por óbvio, não estão festejando. Entretanto, muitos, de forma honrada, já se manifestaram nas redes sociais, nas rádios, enfim, nos meios de comunicação, para agradecer aos cidadãos que confiaram neles e que, mesmo não tendo logrado êxito, são gratos pelo apoio recebido, mesmo que esse tenha sido pouco expressivo.

 

Aliás, como bem nos ensina Tancredo Neves, com sua mineira sabedoria política, as derrotas nunca devem ser recebidas com amargura e revolta. Elas devem ser compreendidas como parte do jogo político e, muitas vezes, as benditas são necessárias para compreendermos melhor determinadas circunstâncias para que, deste modo, possamos conquistar algo muito mais importante que o poder por si só. No caso, seria a conquista do amadurecimento político.


Se soubermos acolhê-las com humildade, seremos regalados com uma compreensão muito mais ampla da sociedade e um entendimento mais profundo do jogo do poder.

 

Vale lembrar que o mesmo pode ser dito a respeito das vitórias.

 

Vitórias e derrotas, todas elas, cada uma ao seu modo, nos apresentam mensagens que nos são dadas pela conjuntura política da sociedade e que devem ser devidamente ponderadas por aqueles que as sofreram.

 

Não apenas isso. Tanto as primeiras quanto as segundas nos apresentam dados importantíssimos para todos, principalmente para nós, reles cidadãos, para podermos melhor refletir a quantas anda a nossa cidade, independente das tretas que rolam a nível Federal e no plano Estadual, pois, como todos nós sabemos, é na arena municipal que a vida de todos nós acontece.

 

Digam o que quiserem a respeito da democracia brasileira, mas em boa parte dos municípios do nosso país, do Oiapoque ao Chuí, ainda impera de maneira sensível o velho e trágico mandonismo, tão bem descrito por Victor Nunes Leal, em seu livro “Coronelismo – Enxada e voto”, e devidamente analisado por José Osvaldo de Meira Penna, em sua obra “Em berço esplêndido”.

 

O coronelismo pode ter findado, mas os caciques políticos, os clãs partidários, as práticas patrimonialistas, o Estado cartorial e tutti quanti, continuam ainda presentes e muito bem instalados em incontáveis municípios desta pátria de chuteiras.

 

Por essa razão, infelizmente, não são poucos os indivíduos que têm uma série de interesses nada republicanos no jogo eleitoral municipal, interesses esses que se apresentam indevidamente fantasiados com toda ordem de “preocupações sociais” que, de sociais, só tem o nome.

 

Além destes, há também uma penca de negócios, que estão a milhas de distância do decoro cívico, cuja subsistência depende do velho “capitalismo de compadrio” que, de capitalismo, tem muito pouco, pra não dizer nada.

 

Por isso, Ortega y Gasset nos lembra que é de fundamental importância que todos reflitamos sobre a forma como nós encaramos a vida política; é imprescindível que reflitamos a respeito dos valores que norteiam as nossas ações num pleito eleitoral e, principalmente, que ponderemos, de forma serena, sobre aquilo que nós consideramos como boa política porque, a resposta que for apresentada por nós a essas questões revelará, de forma indelével, o naipe da nossa cidadania que, por sua deixa, poderá, inclusive, ter uma feição tão abjeta quanto a das figuras públicas que nós rejeitamos com todas as forças do nosso ser.


Fim.

 

*

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.

https://lnk.bio/zanela




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUITO ALÉM DA CRETINICE DIGITAL

Desconfio sempre de pessoas muito entusiasmadas, da mesma forma que não levo a sério os alarmistas, que fazem uma canja rançosa com qualquer pé de galinha.   Bem, esse não é o caso de Michel Desmurget, doutor em neurociência e autor do livro “A fábrica de cretinos digitais”. Aliás, um baita livro.   No meu entender, essa deveria ser uma leitura obrigatória para pais, professores e, principalmente, para os burocratas e políticos que não se cansam de inventar traquitanas que, hipoteticamente, melhorariam a qualidade da educação.   Não duvido que políticos e burocratas, que se empolgam com toda ordem modismos, estejam cheios de boníssimas intenções, não mesmo. O problema, como todos nós sabemos, é que o inferno está cheio delas.   Enfim, em resumidas contas, a obra de Desmurget nos apresenta estudos, dados, fatos e evidências que demonstram o quão lesivo é para a formação das nossas crianças a exposição precoce e desmedida às telas, da mesma forma que desmitifica inúmer...

UMA ARMADILHA OCULTA EM NOSSO CORAÇÃO

Somos movidos pelo desejo, não temos para onde correr. E esse é um problema que todos nós temos que enfrentar, no íntimo do nosso coração, com as parcas forças do nosso ser.   Diante desse entrevero, Siddhartha Gautama diria que bastaria abdicarmos deles para os problemas se escafederem. Nas suas palavras, desejos seriam como pedras: quanto mais desejamos, mais pesada torna-se a vida.   E ele, em grande medida, está coberto de razão. O ponto é que essa não é uma tarefa tão simples assim. Na verdade, é uma tarefa hercúlea porque, o desejo, não é um mero adereço que usamos e descartamos quando nos dá na ventana. Nada disso.   Ele ocupa um lugar central em nossa vida e, por isso, todos nós temos em nosso âmago um vazio que apenas o absoluto pode preencher. Vazio esse que nos torna um ser sedento por ser. O problema é que não sabemos como fazer isso, nem por onde começar.   Segundo René Girard, o desejo não se manifesta em nós de maneira direta, mas sim, de forma triangu...

NADICA DE NADA

Quanto mais um sujeito fala em liberdade, quanto mais ele acredita ser plenamente livre, “livre da Silva”, mais susceptível ele está a toda ordem de doutrinações e, consequentemente, mais facilmente ele poderá ser subjugado, escravizado, seja por senhores sombrios, seja pelos seus abjetos caprichos.   #   Se tem um negócio que realmente aporrinha é essa conversa toda sobre o poder libertador da cultura. À esquerda vemos a galera falando de cultura como se fosse uma trincheira de luta contra a opressão; à direita tem toda aquela conversa azeda sobre o resgate da alta cultura para salvar a civilização Ocidental. Enfim, apenas pessoas tremendamente incultas tratam a cultura como se fosse uma religião.   #   O igualitarismo é, em sua essência, um veneno terrível, porque quando passamos a tratar a igualdade como critério moral supremo, sem nos darmos conta, acabamos por minar as bases da nossa capacidade de discernir. E isso é uma terrível ameaça, um grande perigo.  ...