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DIÁRIO DE INSIGNIFICÂNCIAS E INCONGRUÊNCIAS (p. 19)

Quando os usos da lei são infames, é um tributo à vilania acatar as iniquidades feitas em nome da sua letra equânime.

 

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A letra da lei torna-se morta e pútrida quando a tirania passa a falar em seu nome.

 

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Se não podemos questionar publicamente uma decisão, tomada por qualquer um dos poderes constituídos, é porque não mais vivemos numa sociedade aberta, mas sim, numa tirania porcamente fantasiada de democracia.

 

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Se não mais podemos praticar o sacrossanto esporte de criticar os poderosos da nação, é sinal de que a liberdade de expressão já era e, deste modo, cedo ou tarde, a democracia acabará sendo reduzida a apenas uma palavra bonitinha para legitimar uma vil tirania.

 

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Quando os interesses de um grupo são o critério básico para limitar a liberdade de associação, de manifestação e de opinião, é porque, bem provavelmente, o que se convencionou chamar de Estado Democrático está tornando-se, apenas e tão somente, uma distopia totalitária mal disfarçada.

 

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Os acontecimentos e fatos são únicos, já as suas versões são muitas e, para compreendê-los, a única forma possível que existe seria a confrontação das inúmeras versões que chegam até nós e, mesmo assim, temos que estar cientes de que, bem provavelmente, iremos nos enganar muitas e muitas vezes antes de conseguirmos ter uma compreensão minimamente razoável a respeito dos fatos, dos acontecimentos, do que quer que seja.

 

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Deus é onipotente, onisciente e onipresente, logo, não precisa estar online. Por isso, quando formos para a Missa, não precisamos deixar o nosso celular ligado. Basta que rezemos com o nosso coração nas mãos porque Deus, em sua infinita bondade, ouve todas as nossas preces, não as nossas mensagens do WhatsApp.

 

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Se as pessoas te paparicam, te louvam, te puxam o saco, por qualidades que você não tem, cedo ou tarde, essas mesmíssimas pessoas, irão te apedrejar, te cancelar, fazer o diabo contigo, por defeitos que você nunca teve.

 

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Uma pessoa que não sabe distinguir um elogio sincero de uma bajulação rasteira, em regra, não tem noção de nadica de nada, nem de quando é dia.

 

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Todo bajulador é um canalha, tanto quanto aquele que gosta de ser gratuitamente lisonjeado.

 

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A crendice de que nascemos purinhos, e que seria a sociedade malvadona que nos corrompe, é a mãe de incontáveis canalhices e, muitas delas, são indizíveis.

 

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Não é a vida que nos corrompe, somos nós que optamos pela via que nos parecia mais cômoda e, ao final, nos corrompemos. E depois de tudo estar avacalhado, malandramente, damos de ombro, dizendo que não sabíamos o que estávamos fazendo; mas sabíamos muito bem o que estávamos querendo.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

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