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O SORRISO TORTO DO LAGARTO AMARELO

Millôr Fernandes dizia que viver é similar a desenhar sem borracha. Para variar, o fraseado do homem, além de bem-dito, é certeiro.

 

Não há uma única viva alma na face da terra que, ao olhar para trás, para os dias que já se foram e não voltam mais, e não encontre boleiras de vergonhas, ultrajes e vexames. Claro, uns mais que outros, mas todos nós temos as nossas vergonhas e elas são todinhas nossas e ninguém tasca.

 

As glórias, se as tivermos, podem ser retiradas de nós, as vergonhas, jamais.

 

Diante desse dado vexaminoso, há muitos que ficam se remoendo e, ao mesmo tempo, procurando justificativas para seus desatinos e, é claro, um culpado, ou muitos culpados, para os seus disparates e, ao fazer isso, acabam entrando num círculo vicioso de auto piedade.

 

Porém, há muitíssimas outras pessoas que, reconhecendo-se como uma figura marcada pelo pecado, olham para si e para as suas misérias e riem, porque diante de nossas quedas, rir continua a ser o melhor remédio.

 

Sim, rir é bom e rir de si mesmo é melhor ainda. Quando nós nos levamos muito a sério acabamos por construir uma autoimagem idealizada de nós mesmos e, como havíamos dito noutras ocasiões, isso não é nada bom.

 

Agora, quando somos capazes de rir das nossas cabeçadas, das nossas quedas e fracassos, estamos reconhecendo o nosso tamanho real, o nosso real valor e, ao fazermos isso, estamos construindo uma base sólida para, de fato, nos aprimorarmos e, se Deus permitir e nós não nos atrapalharmos, não mais cometeremos as mesmas besteiras em nossa porca vida.

 

Não é à toa, nem por acaso, que os grandes sábios da humanidade sempre foram figuras bem humoradas. Não é por acaso, nem à toa, que todas as pessoas pretensamente críticas sejam tão azedas quanto aborrecidas diante de suas incontáveis e inconfessáveis vergonhas.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

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