Pular para o conteúdo principal

A NAU DE SÃO PEDRO DIANTE DE CILA E CARÍBDIS


A Igreja está em crise. Sim, sejamos nós um católico dedicado ou relaxado, um catolicão ou um catolibã, sejamos um católico raiz ou jujuba, tradicionalista, convencional ou revolucionário da teologia da libertação, todos já ouvimos esse papo brabo de que a nau de São Pedro está naufragando e, cada um do seu jeito, acaba reagindo a essa conversa de fundo de sacristia de acordo com a maneira como vivencia a sua fé.

 

Mas a Igreja Católica Apostólica Romana está em crise? Bem, essa é uma daquelas perguntas que podemos responder ao estilo Caetano Veloso: nem sim, nem não, muito pelo contrário. Eita! Agora lascou-se tudo. Nem tanto, mestre, nem tanto. Mas, mesmo assim, sigamos a máxima de Jacke e vamos por partes: dos miúdos até a paleta.

 

Sim, a Igreja está em crise e, desculpe informar, não é de agora. Na verdade, essa é uma notícia tão velha quanto andar pra frente, porque ela, a Santa Madre Igreja, nasceu em meio a uma tremenda crise.

 

Não nos esqueçamos que Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo Divino encarnado, escolheu os doze apóstolos a dedo e, um deles veio a ser o X9 Iscariotes. Não apenas isso! Na hora do pega pra capar, os super onze armaram a capa e vazaram pela tangente.

 

Quer dizer, no finalzinho, ao pé da cruz, ficou apenas São João, junto com Nossa Senhora e Santa Maria Madalena. Pois é, aos olhos do mundo “deu ruim”, um naufrágio sem igual. Porém, foi em meio a essa crise descomunal que nasceu a Igreja: do coração flagelado de Cristo que agonizava na cruz diante do coração ferido da Virgem Mãe Santíssima.


Abre parêntese: sim, estou ligado a respeito da passagem onde Cristo disse (Matheus XVI,18): “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. E, sim, essa também foi uma baita crise. Fecha parêntese.

 

E assim seguiu-se a história através dos séculos até os dias atuais. Não houve um único momento destes últimos dois mil anos em que a barca de São Pedro não se viu acossada pelas forças mundanas, atacadas pelas sedições do príncipe das trevas e erodida pelos erros cometidos por aqueles que se declaram membros do Corpo Místico de Nosso Senhor.

 

Resumindo o entrevero: a história da Igreja é, e continuará até o final dos tempos, sendo uma história de crises que escandalizam uns, de crises que são vistas de forma indiferente por outros e, de batalhas que são enfrentadas por alguns que, com altivez, procuram enxergar as crises do momento com um olhar que procura ir além da reles repercussão frente ao mundo.

 

E, de mais a mais, passados dois mil anos de crise em cima de crise, ela, que é Mãe e Mestra, continua navegando em mares nunca antes navegados rumo a Jerusalém Celeste.

 

Bem, diante do que fora exposto acima, podemos então concluir, sem medo de errar, que a Igreja não está diante de uma terrível crise, mas sim, nós, eu e você cara pálida, estamos em uma tremenda crise e, por estarmos aturdidos com a confusão que impera no mundo atual, não somos capazes de reconhecer a barafunda existencial em que nos encontramos. Sim, a crise é de fé, da nossa fé, e não é pequena não.

 

Aliás, quando não procuramos nos conhecer para melhor compreender quais são as nossas limitações para, com o auxílio da Graça Divina, podermos superá-las, o trem desanda de vez.

 

Pois é. E é nesse troteado que, infelizmente, seguimos, sem medir esforços, questionando tudo, por considerarmos tudo como sendo algo de valor relativo e, sem nos darmos conta, acabamos por relativizar as verdades reveladas por Deus e, num ato de soberba sem par, terminamos por absolutizar nossas imprecisas impressões subjetivas como se essas fossem verdades incontestáveis, digo, como se fossem “nossas verdades” inquestionáveis, porque cada um de nós teria a sua "pequena verdade" pessoal, apesar de ninguém estar procurando uma verdade, por menor que seja, para viver de acordo com ela.

 

É meu caro Watson. Essa nossa mania modernosa que temos de nos colocar como medida de todas as coisas, acaba nos fazendo esquecer que nós não somos medida de nada. Acaba nos levando a esquecer que é Cristo que é a medida de tudo e de todos.

 

A Igreja de dois mil anos sabe muito bem disso, porém, nós, em nossa brevíssima passagem por esse vale de lágrimas, fazemos questão de ignorar essa obviedade ululante. Por isso, seria mais do que prudente que procurássemos parar um pouco de ficarmos sentenciando tudo e todos do alto do “eu acho isso, eu penso aquilo”, para começar a nos perguntar o que Cristo teria a dizer a respeito disso, daquele outro e, principalmente, a respeito de nós mesmos. Pois é, nós não fazemos isso não é mesmo? Ou, ao menos, não o fazemos com a frequência que deveríamos e, por essa e por muitas outras razões que nós, enquanto indivíduos, estamos em crise, numa séria crise. Tão séria que preferimos nem pensar no assunto.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

 

Inscreva-se [aqui] para receber nossas notificações.



 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MEIO FORA DE PRUMO

Quando olhamos para o cenário educacional atual, muitos procuram falar da melhora sensível da sua qualidade devido ao aumento no número de instituições de ensino que se fazem presentes. E, de fato, hoje temos mais escolas. Diante disso, lembramos o ressabiado filósofo alemão Arthur Schopenhauer, que em seu livro “A arte de escrever” nos chama a atenção para o fato de que o número elevado de escolas não é garantia da melhora da educação ofertada às tenras gerações. Às vezes, é um indicador do contrário. Aliás, basta que matutemos um pouco para verificarmos que simplesmente empilhar alunos em salas não garante uma boa formação, da mesma forma que, como nos lembra a professora Inger Enkvist, obrigá-los a frequentar o espaço escolar sem exigir o esforço indispensável para que eles gradativamente amadureçam com a aquisição de responsabilidades — que é o elemento que caracteriza o ato de aprender — é um equívoco sem par que, em breve, apresentará suas desastrosas consequências. Na real, o ba...

NO PARAÍSO OCULTO DAS LETRAS APAGADAS

Paul Johnson, no livro “Inimigos da Sociedade”, afirmava que uma das grandes delícias da vida é poder compartilhar suas ideias e opiniões. Bem, estou a léguas de distância do gabarito do referido historiador, mas posso dizer que, de fato, ele tem toda razão. É muito bom partilhar o pouco que sabemos com pessoas que, muitas vezes, nos são desconhecidas, pessoas que, por sua vez, pouco ou nada sabem a nosso respeito. E essa imensidão de desconhecimento que existe entre autores e leitores deve ser preenchida para que aquilo que está sendo compartilhado possa ser acolhido. Vazio esse que só pode ser preenchido por meio de um sincero e abnegado desejo de conhecer e compreender o que está sendo partilhado e de saber quem seria o autor desse gesto. Para realizarmos essa empreitada, não tem "lesco-lesco": será exigida de nós uma boa dose de paciência, dedicação, desprendimento e amor pela verdade. Bem, é aí que a porca torce o rabo, porque no mundo contemporâneo somos condicionados...

PARA CALÇAR AS VELHAS SANDÁLIAS

Tem gente que fica ansiosa para saber quais serão os ganhadores do Oscar, outros acompanham apaixonadamente os campeonatos futebolísticos; enfim, todos nós, cada um no seu quadrado existencial, queremos saber quem são os melhores entre os melhores em alguma atividade humana que toca o nosso coração. Eu, com minhas idiossincrasias, gosto de, todo ano, saber quem é o vencedor do Nobel de literatura. Não fico, de jeito-maneira, acompanhando as discussões e especulações sobre os nomes que poderão vir a ser laureados, nada disso. Gosto apenas de saber quem recebeu os louros. A razão para isso é muito simples: para mim, ficar sabendo quem é laureado por tão distinto prêmio é um tremendo exercício de humildade porque, na grande maioria das vezes, eu nunca, nunquinha, havia ouvido falar do abençoado, tamanha é minha ignorância. Aliás, se deitarmos nossas vistas na lista dos escritores que foram brindados com esse reconhecimento, veremos que a grande maioria nos são ilustres desconhecidos e ...