Pular para o conteúdo principal

Postagens

ATUALIZANDO UM VELHO DITADO

O ditado popular nos ensina que cabeça parada seria oficina do capeta e, é claro, o provérbio está corretíssimo. Todavia, é importante lembrarmos que o fato de nossa cumbuca estar parada não significa, necessariamente, que ela esteja vazia. Muito pelo contrário. Em muitíssimos casos ela está cheia, bem cheia, e esse é o grande problema.   Atualmente, como todos nós estamos carecas de saber, nossa cabeça foi literalmente transformada numa grande lixeira eletrônica, tamanha é a quantidade de informações que chegam até nós.   São tantas informações que, em alguma medida, nos sentimos paralisados diante dessa grandeza, sem saber o que fazer, sem saber por onde começar e, em tal situação, infelizmente, acabamos agindo, diante da avalanche de informações, de modo similar a um tonto, com um controle remoto, que fica mudando freneticamente os canais da televisão, sem parar em nenhum deles.   Esse acaba sendo o nosso comportamento quando estamos navegando numa rede social, passando apressado pe

O VOO DA AVE DE MINERVA

Relembrar é viver, diz-nos o ditado popular e, para variar, o dito está mais do que certo. Está certíssimo. Porém, todavia e, entretanto, é importante enfatizar que o ato de lembrar exige de nós, de cada um de nós, um determinado tanto de esforço. Um grande esforço.   É necessário um grande empenho de nossa parte para lembrarmos dos dias que já se foram, que a muito partiram, e que não voltam mais, tendo em vista que o ser humano tem uma forte inclinação para querer esquecer, o mais rápido possível, principalmente tudo aquilo que pode nos colocar em nosso devido lugar.   Lembrar é preciso porque, no frigir dos ovos, nós nada somos sem as nossas lembranças, sem as nossas memórias. Sobre isso, basta que lembremos que, quando perguntamos para um amigo quem é Fulano, nós estamos querendo saber qual foi o caminho percorrido por ele para ser quem ele é. Ou seja: queremos ser informados sobre a sua história ou, ao menos, um cadinho dela.   Nesse sentido, uma sociedade sem memória está condena

SIMÃO BACAMARTE ATACA NOVAMENTE

O dia começa. Os pássaros, de forma ensandecida, colocam-se a cantarolar junto ao arvoredo enquanto nós, calmamente, tomamos em nossas mãos a chaleira com água quente para passar o café.   Feito isso, pegamos o nosso aparelho celular e começamos a cutucá-lo para ver quais são as últimas notícias que estão sendo, sem a menor cerimônia, atiradas em nossas ventas através dos grupos do whatsapp, através dos sites noticiosos e demais trambolhos similares.   Outros, mais tradicionais, preferem ligar a televisão para acompanhar os eventos do momento sem deixar, é claro, de dar aquela cutucada no dito cujo do aparelhinho.   Fazendo isso, todo santo dia, é mais do que natural que sejamos confrontados com algo que nos incomoda. Aliás, sentir-se incomodado com algo é um claro sinal de que estamos “vivinhos da Silva”.   Agora, quando sentimos a pulsação alterar, a mão tremer e as palavras tropeçarem ao saírem de nossa boca, simplesmente por causa de uma publicação, isso é um claro sinal de que alg

NOSSA VÃ CRITICIDADE POSTIÇA

Em terra de cegos quem tem um olho é rei? Não. Não é. Quer dizer, pode até ser, dependendo das circunstâncias, mas, na maioria dos casos, não será nem mesmo suplente de suplente de vereador.   Se pararmos para matutar um cadinho, iremos concluir que, em terra de cegos, quem tem um olho será tido na conta de maluco, de proponente de teorias da conspiração e sabe lá do que mais o pobre coitado poderá ser carimbado.   E, como todos nós muito bem sabemos, o pior tipo de cego é aquele que tem olhos sãos e se recusa a ver. É aquele que vê com seus olhos, que um dia a terra há de comer, mas se recusa a enxergar.   Qualquer um que ouse enxergar com mais profundidade e clareza qualquer sutileza da vida, mais do que depressa será tido na conta de esquisito e, é claro, identificado com outros adjetivos torpes que andam meio que, como direi, na moda dos abestados engajados que se consideram esclarecidos e, por isso, criticamente esclerosados.   Todos nós, cada um no seu quadrado, imaginamos que o

NÃO ERA O TITANIC, MAS AFUNDOU

Humberto de Campos, em seu livro “A serpente de bronze”, nos conta que, certa feita, um velho coronel foi com sua família, numa tarde quente de domingo – ou seria sábado? – para banharem-se nas águas dum riacho que cortava sua propriedade e, diga-se de passagem, era uma propriedade bem macanuda.   Ele, imponente, com seu bigode farto, sentou-se numa cadeira junto à sombra de um pessegueiro para bebericar uma um chá gelado que havia trazido consigo, na cesta de piquenique, enquanto sua bela senhora pulou de ponta cabeça nas águas do riozinho, nadando firmemente, e com constância, para águas mais profundas.   Seu filho pegou uma cumbuca de barro e foi para às margens do rio para brincar, usando o utensílio doméstico como barquinho, fazendo de conta que era um marinheiro.   Lá pelas tantas, o guri empurrou a cumbuca/barquinho com mais força para que ela navegasse um tanto sem ele e, de repente, a dita cuja começou a fazer água e naufragou, indo parar no fundo do rio, perdendo-se de vez.  

UM BANQUETE NA TORRE DE BABEL

Para muitos, a suprema liberdade consistiria em não termos que dar satisfação, nenhum tipo de explicação, sobre aquilo que nós decidimos fazer ou deixar de fazer.   Quando jovens, creio que provavelmente todos nós já pensamos mais ou menos assim, desse jeitão. Muitos apenas pensavam, outros, em alguma medida, procuravam viver nessa toada e, por isso, com toda certeza, hoje, com o rosto marcado pelo tempo, devem ter boleiras de histórias para contar e borbotões e mais borbotões de arrependimentos pesando em seus corações.   Ué! Mas ser plenamente livre não seria fazermos o que nos der na telha sem termos que nos preocupar em dar satisfação de nadica de nada para ninguém? Com certeza. Mas isso não significa que nossas ações, livremente tomadas, poderão nos eximir de assumirmos as consequências advindas delas. Essas são inescapáveis. Não tem lesco-lesco.   E é aí que a porca torce o rabo, e torce bonito, porque no mundo contemporâneo, praticamente todos querem, porque querem, fazer apenas

O CAMINHO FRANCISCANO DO CONHECIMENTO

Uma das primeiras coisas que o professor Olavo de Carvalho sugeria aos seus alunos era que todos procurassem abster-se de ficar opinando sobre tudo, que evitassem de ficar de bate-boca, que procurassem, na medida do possível, fazer um voto de pobreza em matéria de opinião.   Esse voto pode ser facilmente traduzido nos seguintes termos: em aprendermos a dizer o tal do “eu não sei” quando somos confrontados com os incontáveis assuntos que chegam até nós, seja através dos mais variados canais de comunicação, ou por meio dos mais diversos círculos de convívio social.   Frequentemente, acabamos nos esquecendo, no mundo midiatizado atual, que Sócrates não tornou-se quem ele se tornou pelas suas opiniões sobre todo e qualquer assunto, mas sim, pela sua honestidade em dizer que nada sabia sobre uma infinidade de coisas.   Quando aprendemos a dizer “eu não sei”, estamos abrindo as janelas da nossa alma para a possibilidade de aprendermos algo de forma sólida e honesta, pois, deste modo, estamos